Esther* cresceu em uma família disfuncional na Holanda. Seus pais viviam uma vida dupla: eles iam à igreja aos domingos, mas faziam parte de um culto satânico.
“Eu cresci em um lar cristão que também honrava Satanás. Essa, em poucas palavras, é a vida dupla que levei na minha infância”, disse ela, em entrevista à Revive.
Desde criança, Esther foi levada à seita pelos próprios familiares. O grupo, formado por cerca de 24 pessoas, praticava rituais, sacrifícios, adoração de demônios, orgias e estupros.
Além disso, o culto estava envolvido em crimes como prostituição, tráfico de pessoas e pornografia infantil sádica.
“A vida no culto vai de geração em geração, até que alguém cometa erros ou se afaste do grupo”, explicou ela.
“Engravidei aos 9 anos, e a partir daí engravidei uma ou duas vezes por ano. As crianças eram frequentemente ‘buscadas’ por volta dos cinco meses de gravidez e, em muitos casos, mortas imediatamente. Algumas crianças cresceram dentro do culto, com uma mãe diferente”, acrescentou.
Vítima de pornografia infantil
Esther foi uma das vítimas dos diversos tipos de abusos dentro do culto satânico. Desde cedo, a menina foi manipulada psicologicamente pelos membros para “aguentar” os sofrimentos que passaria.
“Parte de mim foi treinada como escrava sexual na indústria da pornografia infantil e outra parte participou das cerimônias em homenagem a Satanás”, revelou Esther.
Para suportar o ambiente abusivo que vivia, a menina acabou desenvolvendo Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI).
“Quando as crianças pequenas experimentam coisas que são muito avassaladoras e das quais seus pais não o protegem ou são a causa, as crianças ‘fogem’ em suas mentes. É necessário sobreviver em um mundo completamente inseguro e não confiável. Pessoas com esse Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) têm problemas de memória o tempo todo”, explicou ela.
Esther nunca experimentou afeto e cuidado em sua casa. Quando visitava a família de suas colegas, ficava impressionada com a forma amorosa em que eram cuidadas por suas mães.
O culto também exigia que as crianças fossem “perfeitas”, sem cometer erros e ter um rendimento excelente na escola.
“No culto você aprende muito a fazer o seu melhor. Se você cometer um erro, será punido, por exemplo, torturado ou estuprado”, comentou ela.
Encontrando Jesus
Até que, durante sua juventude, membros do culto mandaram Esther ir a uma igreja para amaldiçoar o pastor.
Porém, ao ouvir o apelo para aceitar a Cristo como seu Salvador, a jovem foi poderosamente tocada por Deus. “Se você ainda não conhece Jesus e quer saber quem Ele é, apresente-se”, disse o pregador.
“Tudo desapareceu naquela sala, acabei de ouvir essas palavras e sabia que tinha que fazer isso. Fui para a frente e parecia ter caído no chão, mas não me lembro de nada sobre isso. O pastor nem orou por mim, mas eu tive um toque muito forte. Lá conheci Yeshua e parecia que estava em algum tipo de Céu. Em retrospecto, sei que foi o Espírito Santo que experimentei”, contou.
Lutando por liberdade
Apesar de ter aceitado Jesus, a jovem lutou para sair do culto satânico. Sair era proibido e ela sofreria ameaça e punição se abandonasse o grupo.
Logo depois, Esther começou a fazer terapia e conhecer uma outra realidade, fora da que foi doutrinada no culto.
“Comecei a descobrir que as pessoas podem ser reais, que existem pessoas que não mentem e não torturam, e que você não é morto se estiver um minuto atrasado”, disse ela.
“Se você não vai para o culto, então você é um apóstata, a pior coisa que pode haver. Além disso, existem laços de lealdade que vocês têm com os quais eles me chantagearam. Havia muita pressão”, explicou.
Com a ajuda de seu psicólogo, Esther começou a formar uma rede de apoio com pessoas fora do culto, para lhe ajudar a sair em segurança.
Ela também contou com a ajuda da fé para sair da situação abusiva que viveu por toda a sua vida.
“Cheguei a ter a profunda convicção de que tinha que escolher fazer apenas o que Deus quer que eu faça. Foi assim que aprendi a fazer boas escolhas, mesmo quando tinha medo das consequências”, comentou.
Esther conseguiu se libertar do culto e viver uma vida sem abuso e tormento. Porém, até hoje ela enfrenta ameaças e já sofreu tentativas de assassinato do grupo satânico.
Ajudando outros sobreviventes
Depois de anos, a cristã ainda está se recuperando emocionalmente dos traumas. “Todo ser humano está em um processo, há muitas batalhas para se livrar das trevas, isso vale para todo cristão”, refletiu.
Ela criou a Fundação Friends of Esthers, que tem ajudado outros sobreviventes de abuso ritual satânico.
“A razão pela qual perseverei em sair e escolhi o caminho de Yeshua foi porque queria ajudar os outros a se libertarem. Começamos a ajudar outros sobreviventes com um grande grupo de pessoas dedicadas. Nós os ajudamos com um tratamento muito intensivo, no processamento de traumas. Também os apoiamos com uma rede segura que os rodeia, para que se atrevam a abandonar sua rede insegura com um pouco mais de facilidade”, afirmou.
E concluiu: “A luta não é apenas para mim, mas também para muitos outros. Isso só pode ser feito através do poder e com a ajuda de Yeshua”.
Nome alterado por razções de segurança*.