A Justiça russa proibiu o funcionamento de mais três igrejas batistas ligadas ao Conselho de Igrejas Batistas, desta vez na região sul de Krasnodar, ampliando a onda de repressão contra comunidades que se recusam a se registrar junto ao Estado.
As igrejas afetadas ficam em Timashyovsk, Armavir e Tuapse, e todas foram impedidas de realizar qualquer atividade religiosa sem notificação prévia às autoridades. A informação foi divulgada pelo Forum 18 News Service no início deste mês.
Com essas novas decisões, chega a 10 o número de congregações do Conselho de Igrejas Batistas proibidas de funcionar na Rússia desde o início de 2024.
A organização norte-americana International Christian Concern (ICC) explica que, quando uma igreja é proibida judicialmente, ela passa a ser impedida de se reunir não apenas em seu endereço, mas em qualquer ponto da cidade ou distrito.
No entanto, o Conselho se nega a solicitar autorizações ao governo devido à sua origem: “O Conselho de Igrejas Batistas foi criado durante a Guerra Fria para resistir ao controle soviético sobre as congregações — ao contrário das igrejas registradas, rigidamente supervisionadas pelo Estado. Após a queda da União Soviética, o Conselho continuou se reunindo abertamente, mas sempre em casas particulares ou propriedades privadas.”
Processos e inspeções durante cultos
Em 13 de outubro, o Tribunal Distrital de Timashyovsk determinou a proibição das atividades da igreja local depois de uma inspeção realizada em junho. Durante essa visita, autoridades entraram no templo no meio de um culto e, em seguida, interrogaram o pastor Andrey Antonyuk sobre a situação legal da congregação.
A promotoria havia movido uma ação civil em julho pedindo a suspensão das atividades até que a igreja apresentasse notificação formal de existência. Segundo o Departamento de Intercessão do Conselho de Igrejas, a decisão judicial não apontou nenhuma violação grave ou repetida que justificasse a medida extrema.
Em Armavir, o tribunal da cidade atendeu a um pedido semelhante da promotoria em 30 de setembro, alegando que o pastor Vladimir Popov realizava reuniões religiosas sem autorização oficial e que o grupo se enquadrava como associação religiosa não registrada.
O tribunal ainda citou “violações administrativas” — entre elas, multas aplicadas ao pastor por dirigir cultos e a um membro da igreja por distribuir jornais religiosos em uma loja de chaves.
Já em Tuapse, o tribunal local proibiu a congregação em 22 de setembro, após relatórios do Serviço Federal de Segurança (FSB) apontarem que o grupo promovia atividades religiosas com participação de menores e de visitantes de outras regiões e até de outros países.
A ação administrativa foi movida pela promotoria em agosto.
O pastor Anatoly Mukhin também já havia sido multado antes por supostas atividades missionárias ilegais, como distribuir literatura cristã e realizar cultos sem notificação ao Estado.
Contexto religioso na Rússia e restrições às igrejas
Embora a maior parte da população pertença à Igreja Ortodoxa Russa, o engajamento religioso é baixo: muitos nunca leram a Bíblia e poucos frequentam cultos. Apenas 1,3% dos russos se identificam como protestantes, segundo um relatório de 2024 da Portas Abertas Internacional.
Em junho, um projeto de lei apresentado na Duma propôs proibir cultos e ritos religiosos dentro de residências e em áreas comuns de prédios — medida que afetaria diretamente as congregações do Conselho de Igrejas, que se reúnem em casas.
O governo, porém, criticou a proposta em outubro, afirmando que ela contradiz leis vigentes e precisava de ampla revisão.
Mesmo com as decisões judiciais, as igrejas continuam se reunindo. Apenas uma igreja — em Kurganinsk — foi de fato lacrada por oficiais de justiça após um julgamento de 2024. Os recursos do pastor Aleksandr Chmykh foram rejeitados em todas as instâncias, incluindo pela Suprema Corte da Rússia em agosto de 2025.
Em Rodniki, a igreja teve seu apelo final rejeitado em 29 de outubro, quando o 4º Tribunal de Cassação manteve a proibição emitida em dezembro de 2024.
Na cidade de Yoshkar-Ola, capital de Mari El, a Suprema Corte regional confirmou em outubro a decisão que impedia as reuniões realizadas na casa de Viktor e Svetlana Araslanov, junto com outros membros da igreja.





